Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência

Em comemoração do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado anualmente neste dia 11 de fevereiro, o PN Reads conversou com duas brilhantes cientistas portuguesas! 🌟

🔎 Informação apoiada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) aponta que há mais mulheres a estudar ciências, tecnologia, engenharia ou matemática em Portugal do que homens e que na área da biologia elas constituem mesmo a esmagadora maioria.
Apesar desta maioria, verificamos que os cargos mais elevados, como as cadeiras dos reitores, diretores de laboratórios e unidades de pesquisa, ou cargos de chefia em empresas do setor, são predominantemente ocupados por indivíduos do sexo masculino. Segundo o relatório "She Figures 2021" da Comissão Europeia, em Portugal, 43% dos investigadores eram mulheres, valor acima da média europeia (32,8%). Contudo, há uma tendência de diminuição da representatividade da mulher em posições de liderança na carreira académica, sendo que elas ocupam apenas 27,2% em cargos de direção em instituições de ensino superior.

Conhece a Professora Doutora Célia Azevedo Soares, investigadora e especialista em genética médica, e a Professora Doutora Constança Providência, investigadora e professora catedrática de Física na Universidade de Coimbra. 💡👩‍🔬 Partilhamos as suas experiências, conquistas e perspetivas sobre o papel atual das mulheres na ciência em Portugal.

Desliza para ler os destaques das entrevistas e celebra o talento inspirador que molda a ciência! 🚀

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A 11 de fevereiro assinala-se anualmente o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma celebração que teve origem no "World Women’s Health and Development Forum", promovido pelo Royal Academy of Science International Trust (RASIT) e pelo Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas (DESA), em fevereiro de 2015.

 Instituída posteriormente pela Resolução A/RES/70/212 da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 22 de dezembro de 2015, esta data destaca o papel crucial desempenhado pelas mulheres na produção de conhecimento científico. No entanto, o seu objetivo vai mais além, procurando sensibilizar a sociedade para a necessidade de superar as barreiras da desigualdade de género no acesso à educação e carreiras, especialmente nas ciências exatas.

 Para comemorar esta data, o PN Reads conversou com duas cientistas portuguesas: a Professora Doutora Célia Azevedo Soares, investigadora e médica especialista em genética médica, e a Professora Doutora Constança Providência, investigadora e professora catedrática do Departamento de Física da Universidade de Coimbra, para perceber qual o papel que a mulher tem atualmente na ciência no contexto português.

Entrevista a Professora Doutora Célia Azevedo Soares:

 Médica Especialista em Genética Médica no Centro Hospitalar Universitário de Santo António no Porto e investigadora em projetos relacionados com a genética humana e neuro desenvolvimento, tanto dentro do ICBAS, na Universidade do Porto, como no I3S.

Alumni na Universidade do Minho, do Programa MD PhD e, no âmbito deste, esteve 4 anos a fazer o seu PhD no desenvolvimento dos circuitos visuais do olho para o cérebro, com Carol Mason, uma das mulheres pioneiras na sua área, na Columbia University.

Após regressar a Portugal, iniciou a especialidade de Genética Médica, fazendo em simultâneo, um programa de 2 anos em investigação clínica, o Harvard Medical School - Portugal, comunidade com quem ainda tem mantido contacto. Foi também investigadora visitante no Instituto de Medicina Genética, Hopkins Medicine, Baltimore, EUA.

 O que a motivou a se tornar cientista em especial na sua área? Sempre foi o seu sonho, teve alguma inspiração, acabou por ser “para onde a vida a levou”, …?

Eu não me lembro de não querer ser cientista, por isso, eu acho que sempre foi algo que foi muito natural e desde criança pensei que queria ser alguém que queria investigar o porquê das coisas serem como são. Houve fases em que o meu fascínio era a Botânica, outras em que era mais a Biologia; Antropologia foi algo que, se eu pudesse em alguma fase da vida, gostava de estudar e a parte da evolução do Homem. Mas acabei por chegar ao 12º ano sem saber o que fazer na vida e também venho de um meio económico mais pobre, onde não temos muito acesso a aconselhamento profissional, então fui para Medicina, já que tinha nota e ia ver o que dava. Tinha aquela ideia de “entrei em setembro, se em dezembro tiver bolsa, fico, se não tiver bolsa desisto e vou fazer outra coisa” porque não tinha condições para pagar a universidade.

Portanto, entrei em Medicina, fui ficando, gostei muito sempre de estar com doentes e é algo que me dá bastante prazer: estar com pessoas e ter aquela grande partilha de histórias de vida.

Por volta do meu segundo ano, nós partilhávamos sala com colegas mais velhos e houve um colega, o Tiago Gil, que veio-nos falar um pouco do MD PhD e cativar-nos para o programa, e eu percebi que estava aqui a minha via para fazer uma coisa mais parecida com a que queria fazer inicialmente.

Então entrei no MD PhD e consegui concretizar mais os meus planos de ser investigadora e pensar na ciência. Acabei por estudar o neuro desenvolvimento porque acho que mistura muita coisa do que gosto: perceber porque é que as pessoas são como elas são, perceber o desenvolvimento da criança para a vida adulta e a parte de pensar uma célula, acho uma área extremamente interessante em que conseguimos misturar e ter um pensamento muito global do que é uma pessoa, o seu desenvolvimento, com uns “toquezinhos” da evolução que eu também gosto bastante.

 Como descreveria a atual representação de mulheres na sua área de pesquisa?

Eu acho que cada área é muito diferente, mas nós em Portugal temos uma real paridade da existência de cientistas homens e mulheres, principalmente em áreas mais ligadas às ciências biológicas. Tal não é por acaso, é porque houve pessoas que historicamente promoveram isso. Tivemos a Maria de Sousa que foi uma pessoa que foi muito responsável pela formação de muita gente em Portugal, fundou programas de alta qualidade, garantiu que essas pessoas eram expostas à melhor ciência, dentro e fora de Portugal e criou uma certa naturalidade na existência de mulheres a comandar laboratórios nestas áreas.

Agora, dentro da área da Medicina, acho que é um desastre em Portugal. Ainda temos muito os boys club, na ciência e na parte mais administrativa dos hospitais. Por exemplo, nas últimas eleições da Ordem dos Médicos não tivemos nenhuma candidata mulher e ainda me lembro quando fizeram essa pergunta a um dos candidatos, a resposta dele para não haver mulheres foi na linha de não haver mulheres, porque isto dá trabalho. Esta resposta mostra uma visão específica que esta pessoa em específico tem das mulheres médicas e da sua presença na comunidade. Por isso acho que na parte da Medicina ainda temos muito por fazer, no sentido de ter mulheres mais presentes e com maior representatividade. Agora somos muitas, mas sinto que não conseguimos subir para um nível superior em termos de poder.

Mesmo no programa MD PhD também notei que, até nos Estados Unidos, numa fase inicial, por exemplo, nas rotações e no começo do doutoramento, tínhamos muitas mulheres, mas depois quando passávamos para as fases seguintes de exercer cargos com maior poder, havia uma grande pirâmide em que poucas mulheres passavam para estas, ou seja, poucas mulheres chegavam a ser principal investigators. Notávamos muitas mulheres a desistir e mesmo agora pensando, no final, muitos dos que ficaram na Universidade do Minho acabaram por ser homens.

Ou seja, ainda há um grande desafio nesta transição e progressão das mulheres na carreira que não é só portuguesa, nós em Columbia (University) também tínhamos esse problema, no entanto, sempre achei interessante que lá foi visto efetivamente como um problema. Lembro-me perfeitamente dos administradores e das pessoas com responsabilidade se terem reunido com toda a gente, também a minha chefe, para perceber o que se estava a passar, o que se estava a fazer de mal e requisitar mais apoios.

Acho que é isso que temos de fazer: achar que não é normal não haver uma progressão das mulheres na medicina e investigação para cargos superiores e tentar perceber o que se pode fazer para corrigir a situação.

Este tema tem sido conversado dentro da comunidade da Harvard Medical School - Portugal. Há pessoas que acreditam que as mulheres não progridem mais na carreira científica porque elas não querem, o que é uma grande mentira. Há indivíduos que podem ter esta perspetiva mas muitas mulheres estão interessadas em progredir, como disse uma grande mulher portuguesa, ela quer ser capitã, não quer ser soldado só que existem bastantes barreiras a tal. Ao mesmo tempo, há homens que estão bastante conscientes deste problema e temos uma comunidade masculina que penso serem os nossos principais defensores e apoiantes, o que me traz esperança para um futuro que seja diferente.

  

Como é que colegas, mentores e instituições com quem mulheres trabalham podem dirigir a sua ação para promover a equidade de género na ciência?

Acho que é importante que os boys club não tenham medo das mulheres. Por vezes parece que têm medo da nossa presença: “está aqui uma mulher, não posso dizer um palavrão; está aqui uma mulher, não me posso comportar de uma x maneira”. Tem de ser normalizada a nossa presença em alguns sítios; a conduta não pode assentar em conceitos predefinidos do que estão à espera do que uma mulher faça. Têm de nos conhecer e habituarem-se à nossa presença.

Outra coisa essencial é acreditarem nas nossas capacidades. Já estive em grupos em que estava a trabalhar com homens e mulheres, e as mulheres ficavam com a introdução e a parte estética do trabalho, os homens ficavam com a parte de “pensar”. Eu ficava fula e não deixava. Ainda me lembro de um dia, termos dificuldade em resolver um problema estatístico e eu fi-lo, deu muito trabalho, muitas horas durante a noite, mas resolvi-o e partilhei-o. Eles quando o viram pensaram que tinha sido um homem que o tinha resolvido, não estariam à espera que tivesse sido uma mulher a tratar de um problema tão complicado e tão mental.

Nós aplicamos as coisas no terreno e muitas vezes são as mulheres que fazem um plano ser executado e o tornam mais prático para tal, isso é uma verdade da Medicina em Portugal. Mas a parte intelectual de resolver um problema matemático, acharam que tinha sido um homem e não acreditaram que tivesse sido eu.

Por isso a solução passa em habituar os homens a olharem para as mulheres como iguais.

Lembro-me de estar a falar com a Manuela Veloso, uma cientista da Carnegie Mellon University, sobre estas questões de disparidades entre homens e mulheres mais direcionado para a área dela da engenharia e da robótica, e ela dizia-me que quando pensa, não pensa em homens e mulheres, pensa em robôs e o seu cérebro não altera este pensamento apenas por ser mulher.


Na sua experiência, de que forma o viés de género pode afetar as oportunidades profissionais e o reconhecimento no meio científico?

Chegar a um cargo de chefia é um desafio, uma vez que muitas vezes está dependente da referenciação de outra pessoa, não depende puramente do nosso talento e formação. Há um sistema de networking que tem de estar ativo e muitas vezes como as pessoas estão habituadas a querer trabalhar com alguém igual e que pense de forma igual, é um desafio chamar para a mesa alguém que pense de um modo divergente do nosso, pode ser uma mulher, pode ser uma pessoa estrangeira, alguém que simplesmente tenha uma motivação política diferente da nossa, …

Trabalhar com alguém diferente é um desafio e não é uma coisa que naturalmente façamos. Acho que isso acaba por ser um desafio para as mulheres para avançar na carreira, se uma parte das chefias são masculinas provavelmente quando vão pensar em alguém para trabalhar com eles, vão pensar em alguém exatamente igual a eles.

Outro fator é um fenómeno que está investigado por uma socióloga em Aveiro: em Portugal existe um sistema hierárquico nas universidades e institutos: alguém que é um chefe, escolhe outro alguém que lhe vai obedecer e quando essa pessoa sai do seu cargo, o seu discípulo ocupa a sua posição. Este tipo de sistema é um grande desafio, pois, em Portugal, temos muitas poucas posições de academia mais avançadas, ou seja, uma grande parte das pessoas que estão na academia estão num limbo de professores convidados ou investigadores que nunca passam a investigadores principais. Então existe uma assimetria entre uma base muito grande e um topo limitado e quando se vai escolher alguém para passar para o topo, provavelmente vai se buscar quem se assemelhe mais a alguém que já se encontra lá e que não tenha uma posição tão disruptiva, em termos científicos, mas também em questão de género.

Depois há questões bastante delicadas como o caso das mulheres que podem ter interrupções na carreira pelo facto de ficarem grávidas. É algo que muitas mulheres têm que optar e algumas vias profissionais não têm isso em conta quando contabilizam, por exemplo, anos de trabalho. Isso acontece na Medicina, por exemplo, uma mulher que tire uma licença de maternidade vai atrasar a possibilidade de se candidatar a alguns concursos, como o concurso de consultor. Um homem em princípio não tem este tipo de interrupção, enquanto uma mulher se engravidar mais do que uma vez, são anos que ela pode atrasar na hipótese de progressão na carreira. Se houver este tipo de tempos definidos, às vezes as mulheres podem ser prejudicadas porque quem fez a nossa legislação normalmente foram homens que não imaginam que alguém possa ter essa possibilidade de vida, já que não passam ativamente por tal.

  

Como acha que o equilíbrio entre vida profissional e pessoal impacta de maneira diferente homens e mulheres na ciência?

Eu acredito que tem sempre um impacto diferente mas acho que depende de uma grande decisão na vida pessoal da mulher que é: se tiver um companheiro ou companheira, como é que essa pessoa é. Muitas vezes não é só a pressão da sociedade, é também a parte da pessoa com quem partilhamos a nossa vida ou até a nossa família. Por exemplo, a minha chefe, a Carol, teve uma carreira de bastante sucesso, mas também teve um marido incrível, ele próprio também um académico, formaram uma equipa em que se apoiam mutuamente e que permite que as pessoas se sintam confortáveis e achem normal alguém ser ambicioso e dedique mais tempo a um projeto. Em relação à sociedade, a mesma vai pensar sempre algo que não se vai aplicar a nós, por isso acho que é uma perda de tempo preocuparmo-nos com isso. Tenho um grande amigo que me diz que na maior parte do tempo, as críticas que ouvimos têm a ver com o que a própria pessoa que faz a crítica vê da nossa carreira através dela própria.

  

Qual a importância da mentoria no desenvolvimento de carreiras científicas para mulheres?

As mentorias são bastante importantes e fundamentais. Na Harvard Medical School tivemos uma aula apenas sobre isso: como procurar mentores, como os manter e qual a sua utilidade. Tem a ver, por exemplo, não só com o “ser mulher”, mas também com o “vir de um meio economicamente mais desprivilegiado”, então os nossos mentores podem nos ajudar a refletir um pouco sobre o que acontece na nossa carreira e alguns fenómenos que são muito recorrentes. Um deles é por exemplo a “síndrome do impostor”, que é muito comum tanto em mulheres, às vezes porque são tão diferentes do que está à volta delas, quanto em alguém que vem de um meio socioeconómico mais pobre e também se insere num meio diferente daquele que cresceu, o que a faz acreditar que não é igual aos outros.

A mim ajudaram-me duas pessoas que eu vi como mentoras em dois momentos diferentes da minha carreira. A primeira foi a Carol Mason, minha orientadora de doutoramento, uma das primeiras mulheres neurocientistas nos Estados Unidos, que faz parte de uma geração pioneira e todas muito amigas umas das outras. É interessante ver que numa altura em que não havia muitos mentores, as mulheres entre elas se foram reunindo e apoiando-se umas às outras, o que mostra uma grande solidariedade e comunidade.

Em relação à parte socioeconómica de sentir que tenho de estar sempre a lutar para não voltar atrás neste nível, e que por isso sou diferente dos meus colegas, tive o apoio da minha orientadora em Hopkins por um período muito breve, a Joann Bodurtha, que me disse “you are already winning”, pensa, tu já estás a ganhar. Ou seja, às vezes temos de parar e pensar o que era previsível nós atingirmos, no meu caso, uma mulher, cujos pais têm a quarta classe, uma casa onde às vezes não há dinheiro, onde, de repente, não há luz …  ela disse-me, e ajudou-me a percecionar que já fiz muito, “tu a partir do secundário já ultrapassaste muito das expectativas”, a partir daí tudo é um ganho. Por vezes os mentores podem ser pessoas que nos ajudam a refletir não apenas no que nós queremos para a frente, mas também no que já atingimos. Quando ela me disse isso, tudo fez sentido e um mentor pode ser isso, alguém que nos ajuda a organizar as ideias sobre o nosso momento presente para podermos preparar o futuro. A recomendação que ela fez a seguir foi “find your helpers”, encontra pessoas para serem os teus companheiros nesta viagem, ninguém faz tudo sozinho e tens de tentar ter mais pessoas à tua volta para seguirem juntos contigo neste caminho.

A mentoria não pode ser uma coisa que acontece por acaso, deve ser uma coisa organizada e acho que nos Estados Unidos é algo muito normal. Por exemplo, algumas bolsas exigem que hajam mentores, a pessoa tem de escolher um mentor fora da sua instituição com quem se reúne regularmente para discutir a carreira e obter algumas perspetivas um pouco de fora para a ajudarem a perceber a singularidade da sua carreira científica.

  

Consegue identificar e se quiser, pode partilhar, alguma experiência pessoal em que tenha enfrentado desafios devido ao género na sua carreira científica?

Mais recentemente notei que existe um grande bias em termos do que é expectável de um grupo científico em Medicina. Eu por vezes organizo os eventos sociais não oficiais do (programa) Harvard Medical School - Portugal, e desafiaram-me há uns tempos para fazer o próximo poster com recurso à inteligência artificial. Eu assim fiz, usei um programa gratuito, coloquei “Harvard Medical School - Portugal Meeting with Cocktails” e a IA gerou uma imagem onde só apareciam homens, morenos por serem portugueses mas só homens e eu achei aquilo ridículo, pelo que retifiquei o que tinha pedido e escrevi “Harvard Medical School - Portugal Meeting with Cocktails Both Men and Women”, então de novo geraram quatro imagens, escolhi uma com os homens sentados numa mesa à frente e onde se via algumas mulheres no background numa composição bastante pequena. Partilhei a imagem e a situação com a minha comunidade o que gerou uma certa revolta. No entanto, a verdade é que os algoritmos da inteligência artificial são alimentados um pouco pelo que está na Internet e neste momento o que está lá provavelmente é que quando falamos de Harvard Medical School e Portugal só existem homens, o que é uma grande mentira pois nós mulheres estamos representadas em número e qualidade.

  

De que forma a diversidade de género na investigação e nos ambientes académicos contribui para o avanço da ciência?

A diversidade é só uma garantia de que estamos a selecionar os melhores. A ciência deve progredir com base no mérito, mas temos de permitir que não haja limitações prévias para este, ou seja, se a melhor pessoa for um homem, queremos que este seja premiado, mas se for uma mulher não queremos que seja impedida porque não teve oportunidade previamente de chegar a um nível para se candidatar a esse prémio. Ou seja, a questão de ter mulheres e pessoas de diferentes orientações sexuais, diferentes etnias, entre outros, tem a ver com aproveitar o mérito para termos os melhores e esses melhores avançarem com a ciência.

  

Quais são as contribuições que tem visto as instituições a nível nacional fazerem para promover a igualdade de género na ciência?

Em Portugal, em algumas áreas é muito natural as mulheres estarem presentes e ocuparem cargos de chefia, como é o caso das ciências biológicas.

No entanto, na Medicina já vejo um contexto diferente, nos hospitais, em particular, falta tudo. Por exemplo, nos Estados Unidos tínhamos salas de amamentação, para as mulheres que tinham de extrair leite. Enquanto que em Portugal já vi situações ridículas, em que as minhas colegas tinham de trancar a porta de uma casa de banho para extrair leite, enquanto alunas de Medicina, nem sequer foi na fase de serem médicas. Mas também me lembro que, quando ainda era aluna, não havia quase batas nenhumas de tamanho pequeno, tendo em conta que mais de metade das pessoas que lá estavam eram mulheres, não fazia sentido ter tantas batas de tamanhos grandes. Isto mostra que ainda não há preparação das instituições para terem mulheres, parece que não existimos em termos de planeamento, de ter uma sala de amamentação, de ter roupa em tamanhos que não sejam masculinos, ou seja, acho que na parte da Medicina ainda há muito a fazer e não vejo nada a ser feito.

  

Como podemos melhorar a educação e a sensibilização desde as fases iniciais até às carreiras profissionais para criar um ambiente mais inclusivo na ciência?

Tentar discutir estes assuntos, como vocês estão a fazer aqui, é um passo bastante importante, encarar esta questão como algo que deve ser discutido e falado. Ou então, fazer algo como fez Columbia, que expressou que não queria que as mulheres não continuassem a progredir nas suas carreiras e que perguntou a toda a gente ao mesmo tempo o que estavam a fazer errado e se eram necessários mais apoios.

Nas fases iniciais da educação passa por falar deste tema e olhar para ele como um tema efetivamente. Estamos num país em que há várias pessoas que acreditam que o mérito é automático e que as coisas vão naturalmente chegar lá. Decerto, olham à sua volta e quando veem apenas homens, pensam que o mérito está atribuído na sua totalidade. Por isso, nós estarmos a falar é dos primeiros passos para contribuir para o aumento da literacia em termos de números e de uma noção de que não é normal olharmos à nossa volta e vermos apenas pessoas iguais a nós, isso inclusive é um tédio e, por outro lado, indica que algo está a correr mal.

  

Que conselhos daria a jovens mulheres que aspiram a seguir carreiras na ciência, com base na sua própria experiência?

Eu acho que a grande mensagem é nunca desistir. A maior parte das mulheres que chegaram a uma fase de liderança em ciência não tiveram um caminho fácil, por isso acho que ainda não vamos ter um caminho fácil, o importante é persistir e continuar.

  

Entrevista a Professora Doutora Constança Providência:

Professora Catedrática do Departamento de Física da Universidade de Coimbra. É membro do Conselho Geral da Universidade de Coimbra e do Conselho Científico da Faculdade de Ciências e Tecnologia. Tem desenvolvido investigação nas áreas de matéria estelar densa e quente, estrelas de neutrões, diagrama de fase da QCD, transição de fase líquido-gás da matéria nuclear, energia de simetria nuclear, matéria nuclear e de quarks magnetizada.  Recebeu o Prémio Ciência da Gulbenkian em 1991, foi nomeada Outstanding Referee of APS em 2018, é presentemente membro correspondente da Academia de Ciências de Lisboa e nos últimos dois anos fez parte da lista “World’s Top 2% Scientists” da Universidade de Stanford. Tem sido coordenadora de vários projetos financiados pela FCT e foi/é membro de redes europeias dedicadas ao estudo de estrelas de neutrões. É editora e autora da coleção “Ciência a Brincar” da Editorial Bizâncio e da secção “Vamos Experimentar!” da revista Gazeta da Sociedade Portuguesa de Física.

  

O que a motivou a se tornar cientista em especial na sua área? Sempre foi o seu sonho, teve alguma inspiração, acabou por ser “para onde a vida a levou” …?

Eu tive a sorte de viver numa casa onde o pai era físico e ele nos desafiava constantemente. Sou de uma família de 6 e o meu pai trazia brinquedos, peões, comboios, máquinas a vapor, legos. Portanto de certo modo, cresci num meio que já me estimulava com quebra-cabeças. Ou seja, vivi numa casa que transpirava ciência, e claro, que uma pessoa quando é estimulada para a ciência pode aderir ou seguir o caminho inverso, e, portanto, eu aderi.

Sempre gostei muito da Matemática, e achei que a Física necessita de matemática e é uma área que nos permite perceber o que nos rodeia, então a Física “encheu-me as medidas”. Lembro-me, no final do secundário, de ter a disciplina de biologia, e na altura o programa cobria muito a parte de genética e lembro-me de ter falado com a professora pois estava indecisa e ela disse-me logo perentoriamente “não te confundas, o teu caminho é física”. Portanto, a professora de biologia, não sei o que viu em mim, mas estava certa, e a verdade é que sempre me senti muito bem com a Matemática e com a Física.

 Como descreveria a atual representação de mulheres na sua área de pesquisa?

Neste momento há muitos concursos para professores associados e catedráticos a decorrer.

Há uma lei que diz que cada um dos géneros deve estar representado em pelo menos 40% num júri e num país em que há 5 mulheres catedráticas e uma delas é ministra, existem poucas mulheres na física e eu estou sempre em concursos presentemente, o que também não considero boa ideia porque acabam por ser sempre as mesmas pessoas que definem de certo modo os resultados dos concursos de todas as universidades. De repente, sou chamada para universidades que não são a minha.

Portanto, não há mulheres suficientes em física. Nas engenharias, talvez a representação seja maior, embora a engenharia eletrotécnica esteja muito mal representada.

O que eu vejo nas gerações mais novas no departamento é que continua a haver poucas mulheres.

Houve realmente um bom número de mulheres a entrar nesta área no pós-25 de abril, mas este tem vindo a diminuir.

Nos novos ingressos no curso a percentagem de mulheres é sempre muito inferior a 50%. O numerus clausus do nosso curso é cerca de 20-25, e lembro-me de um ano só ter entrado uma mulher.

Se se começa com uma baixa representação, depois é difícil compensar na representação numa carreira universitária. Além de que atualmente outros percursos aliciam os jovens.

Começar com um número baixo não abre muitas perspetivas, mas temos de ter confiança.


Na sua experiência, de que forma o viés de género pode afetar as oportunidades profissionais e o reconhecimento no meio científico?

Não estudei esse assunto, mas acredito que a nossa subjetividade influencie a escolha (ou não) de uma mulher. Tentamos ser neutros e analisar os currículos independente do género, mas acredito que possa haver fatores que podem influenciar a escolha ou não-escolha de uma mulher.

Sei perfeitamente que é por causa disso que a lei saiu, uma lei que estabelece quotas para que os júris tenham representatividade de ambos os géneros de pelo menos 40%, no sentido em que áreas dominadas previamente por apenas homens ou apenas mulheres, aumentem a representatividade do género menos representado.

Mas tem que haver candidatos e bons candidatos. Isso constrói-se de pequenos, e a escola tem muita importância. No meu caso, a minha família assumiu este papel, mas nós sabemos que nem todas as famílias têm cientistas, então há que valorizar a carreira de um professor. O país tem que lhe dar ferramentas para ele ser um professor carismático que consiga transmitir o seu conhecimento aos alunos.

Nós sabemos que uma criança escolhe, em parte, um determinado percurso tendo em conta a experiência prévia na escola. Nas ciências experimentais, as escolas têm que cativar as crianças, permitir que elas experimentem e mexam nos equipamentos, durante o percurso no ensino básico e secundário.

Depois também podemos ter outras experiências que nos possam atrair, como atividades dos centros de Ciência Viva, de modo mais informal, mas estas atividades têm de ser consolidadas no ensino.

O papel da mulher poderá ser mais importante em lugares de liderança. Ao ter um papel de liderança posso definir o que tem de ser feito, delinear projetos de futuro. No ensino universitário, a nível dos estudantes e a nível de docentes, sinto que as mulheres, muito mais frequentemente, têm medo de assumir o papel de liderança, não sabendo lidar com a situação. A liderança aprende-se, fazendo-se. É aprendendo, errando e tendo a coragem de nos corrigirmos, que vemos que temos mais ideias e que ganhamos capacidade de transformar.

Frequentemente observei que as mulheres no meu departamento estavam disponíveis para resolver problemas, ofereciam-se para pertencer a uma comissão pedagógica ou uma comissão de orais, e acredito que é preciso ter cuidado. Estas tarefas mais administrativas que são assumidas mais vezes por mulheres precisam ser feitas, mas também precisam ser distribuídas entre mulheres e homens.

  

Consegue identificar e se quiser, pode partilhar, alguma experiência pessoal em que tenha enfrentado desafios devido ao género na sua carreira científica?

Não, que eu tenha sentido, não me ocorre nenhuma situação, felizmente.

Inicialmente não tinha um projeto de futuro definitivo, nem aspirações de subir na carreira. Fiz a opção de vir para um sítio pequeno, embora tenha nascido na Inglaterra e feito lá o meu doutoramento, fiz tudo o resto e vivi muito em Coimbra onde agora me mantenho.

Sei que também fiz a má escolha de ter aceitado um emprego num departamento onde o meu pai já era professor, porque isso automaticamente gera conflitos de interesse. No entanto, o que eu gostava era da ciência, de fazer ciência e investigação e nunca me preocupei muito com a progressão de carreira. Isso para mim é uma das grandes mais-valias de ser investigador, é trabalhar fazendo algo por gosto e de certo modo foi sempre isso o meu motor.

Terminei a minha licenciatura no início dos anos 80, nessa altura havia falta de professores e foi muito fácil ganhar um concurso e entrar na universidade como assistente. Eu fiz um doutoramento com uma bolsa da Fundação Calouste-Gulbenkian, era necessário trabalhar pelo menos dois anos como assistente auxiliar, ou seja, necessitava de experiência de ensino para me poder especializar ainda mais.

Presentemente, a realidade é completamente diferente. Quem termina o curso e mestrado, faz depois um doutoramento, em seguida um pós-doc (pós-doutoramento), portanto torna-se especialista no ponto de vista científico e, se estiver interessado, forma uma carreira no meio universitário, contudo tem uma vida precária por não conseguir um contrato sem termo, o que torna difícil, por exemplo, criar uma família.

 

Qual a importância da mentoria no desenvolvimento de carreiras científicas para mulheres?

A mentoria é muito importante, é importante ter alguém que nos abre as portas, que nos ajuda a crescer e a sermos independentes.

No entanto, no meu percurso, senti que alguns mentores têm muito poder e a pessoa que acaba por ter esse mentor, acaba por subir mais facilmente na carreira.

 Como acha que o equilíbrio entre vida profissional e pessoal impacta de maneira diferente homens e mulheres na ciência?

Eu penso que o impacto vai sendo diferente. A partir do momento em que aparece uma criança em casa é necessária uma reorganização, já não podemos ficar na universidade até às horas que queremos, há ali um ser vivo que é dependente de nós. Aqui entra a maneira como o casal funciona e a partilha entre este.

Eu nunca gostei de voar, mas quando voava pensava no que podia suceder às crianças se algo me acontecesse, o que tornava as saídas do país mais complicadas.

Embora outras coisas que não sejam a vida familiar possam também justificar uma reorganização, a partilha na família das responsabilidades torna possível encaixar os diferentes programas.

Por outro lado, há algumas coisas que considero mais-valias, por exemplo, estou a trabalhar e tenho um impasse, e de repente são horas de interromper para ir buscar as crianças. Quando possivelmente depois de algum tempo nos sentamos e voltamos a pegar no que tínhamos deixado, o problema era afinal fácil de resolver. São pausas necessárias e úteis, então temos de encarar esta outra faceta da vida que também é muito rica como sendo um desafio.

Há um desafio com a constituição de família, mas uma pessoa adapta-se. Por exemplo, acabei por trazer a minha parte de investigação para a vida familiar na medida em que sou autora de um conjunto de livros de “Ciência a Brincar”. Eles surgiram dos momentos em que eu ia às escolas das minhas filhas sensibilizar as crianças para a ciência e mostrar-lhes equipamentos e experiências à volta de uma questão, colocando aquelas crianças a mexer nos instrumentos.

Todas as facetas das nossas vidas são inseparáveis, o melhor é considerar uma simbiose e tirar partido delas todas.

Eu sou casada com um alemão e uma das coisas que eu percebi rapidamente é que, naquela altura, era muito mais fácil ser-se física em Portugal do que na Alemanha.  Em Portugal era normal que a mãe e o pai trabalhassem e havia condições para que as crianças estivessem na creche ou na escola, que em particular na Alemanha não havia.

Quais são as contribuições que tem visto as instituições a nível nacional fazerem para promover a igualdade de género na ciência?

Os júris, como já fomos falando, são constituídos de maneira a terem mulheres representadas nestes cargos. Até podemos levantar a questão de que se há tão poucas mulheres na física, como é que temos um júri que não é representativo da população.

Depois surge outro problema, se vamos analisar os CVs dos candidatos e só temos os de homens, não há possibilidade de contratar mulheres. Mesmo que um júri seja equilibrado, não temos opção de escolha. Tem de haver mais candidatas e só assim é que não teremos mais afunilamentos. Agora é interessante perceber porque é que na base da carreira temos maior percentagem de mulheres, comparativamente, e porque é que esta vai ficando menor à medida que se sobe na hierarquia profissional. Há que estudar os determinantes para isto.

Somos menos mulheres, é um facto. Atualmente no meu departamento, somos 2 mulheres catedráticas, num país onde há apenas mais 3. Professoras associadas temos mais 2 e auxiliares mais algumas. Dentro da física há certas áreas que atraem mais do que outras, por exemplo, a Astrofísica. Outro exemplo é a Química, onde há maior representatividade das mulheres. 

De que forma a diversidade de género na investigação e nos ambientes académicos contribui para o avanço da ciência?

Se eu colocar 50% da população para fora da ciência, 50% das ideias são deitadas fora, e isso é terrível. Qualquer tipo de pessoa pode contribuir, excluir ideias seja de quem for é sempre mau.

Talvez em certas áreas, não tanto em física, mas, por exemplo, num campo mais ligado à medicina, se houver mulheres a fazer investigação, é muito natural que elas peguem em problemas que lhes interessam mais e que gostariam de investigar (investigação no âmbito da ginecologia, por exemplo).

Cada vez mais a ciência é multifacetada e multidisciplinar, com capacidade de colaboração e cada vez mais vejo que as mulheres gostam de colaborar. Esta capacidade de colaborar significa que não se abafam ideias e aqui o papel da mulher é importante. As mulheres trabalham muito bem em colaboração. Devo dizer que uma colaboração muito forte que eu fiz foi com uma colega brasileira da Universidade onde fiz o meu doutoramento e o nosso trabalho foi sempre um trabalho de partilha e construção em conjunto e possivelmente, da minha experiência, isto é mais fácil entre mulheres. Estar tudo ao mesmo nível é também importante, pode haver tendência a alguém mais velho definir o percurso sem abrir suficientemente as portas a outras ideias.


Como é que colegas, mentores e instituições com quem mulheres trabalham podem dirigir a sua ação para promover a equidade de género na ciência?

Essencialmente, eu acho que temos de incentivar a que se vá para a frente, que tenhamos as nossas próprias ideias, que façamos a apresentação de um trabalho, que aceitemos um desafio de organização e coordenação, principalmente da parte de mentores, porque tudo isso é importante para que o jovem investigador adquira a sua própria independência. Portanto, é importante que haja incentivos e é assim que eu vejo uma mentoria e a investigação em si, uma investigação benéfica em que cada um tem a possibilidade de pôr para a frente as suas ideias e de as testar.

Apesar de, quando fazemos um projeto, já parecer que temos o resultado, quando temos de definir uma timeline e objetivos, a investigação pode-nos levar ao que nós queremos ou até abrir novas portas e é isso que é importante passar aos alunos de doutoramento. A investigação vai se fazendo, é importante ouvir e comparar e é dessa troca e colaboração dentro e fora da equipa que a investigação é feita.

Como podemos melhorar a educação e a sensibilização desde as fases iniciais até às carreiras profissionais para criar um ambiente mais inclusivo na ciência?

Como já disse, acho que isto passa muito pelas escolas. Nas escolas, quando temos um Estudo do Meio no primeiro ciclo que fala transversalmente das várias ciências, e que por exemplo, aborda circuitos elétricos, com questões acerca da condutividade de um material, não podemos simplesmente termos um desenho no livro. É preciso ter efetivamente o material, a criança tem que experimentar.

Então as escolas têm que investir na parte experimental de uma maneira séria. Se o professor primário que é um professor multidisciplinar não tem a capacidade ou a formação suficiente para abordar essa área, há que proporcionar os meios para a experimentação.

Um problema que estes professores partilham é o de ter medo que algo não funcione ou que não aconteça precisamente o fenómeno que nós estávamos a desejar que acontecesse. Temos de entender que quando uma pessoa pega no mundo real e começa a fazer experiências, podemos esperar um grande conjunto de resultados e às vezes até podemos obter resultados que não têm nada a ver com o que nós queríamos discutir.

O professor primário é um professor que não teve necessariamente uma formação forte em ciências e, portanto, pode não ter a capacidade de perceber o que se está a passar à primeira; é nestes momentos, em que os professores podem não conseguir dar resposta, que devem dizer: “amanhã vamos discutir isso. Vocês vão para casa para falar com os vossos encarregados de educação, e eu vou falar com outras pessoas, vamos chegar a uma conclusão e amanhã discutimos.”

É impossível saber tudo, mesmo a nível da universidade, por vezes é feita uma pergunta que o professor não sabe responder, então vai pensar e no dia seguinte, discute -se.

Se os professores não têm coragem para pegar num desafio destes, então as escolas deviam ter, pelo menos, um professor dedicado às ciências experimentais. Assim, da mesma maneira que há um professor de música ou de educação física, nas escolas primárias que leciona uma hora dedicada à sua área, devia haver um professor que desse uma hora por semana de ciências experimentais. Isso tem muitas mais-valias. Muitas vezes os professores estão preocupados porque os alunos não são bons na matemática, não são bons na escrita, os alunos não são interessados, fazem barulho, estão desatentos, …. Numa aula de ciências para além de estarem geralmente todos interessados, é necessário tomar nota do que se observou, é preciso escrever, é preciso fazer tabelas e contas.

Os laboratórios têm que existir, as aulas nos laboratórios têm que existir, as pessoas têm que ter a possibilidade de experimentar, de errar, de por vezes estragar material, faz parte do processo. Podemos assim criar muitas mais vocações para a área das ciências e engenharias. Como é que um jovem vai escolher uma área que não conhece, ou que aquilo que sabe é puramente teórico e não lhe deu gozo de aprender?

 Que conselhos daria a jovens mulheres que aspiram a seguir carreiras na ciência, com base na sua própria experiência?

Eu acho que o essencial é apostar na área que gostam, na investigação que gostam de fazer. Estabelecer colaborações dentro e fora de casa com quem acham que as pode ajudar a abrir o caminho que querem. Partilhar as dificuldades. Não ter medo de desenvolver as próprias ideias e de aceitar desafios

Atualmente, existem redes europeias, as chamadas COST (European Cooperation in Science and Technology), que geralmente funcionam durante quatro anos e que envolvem vários países europeus, e nessas redes é dado um papel muito importante aos jovens e às mulheres.

Há vários cargos que estão disponíveis e a partir daí é possível uma pessoa se expor e aceitar os tais desafios. Através dessas redes há financiamento para se fazer visitas de curta duração e dá-se preferência sempre a pedidos de mulheres, porque há poucos pedidos.

Então, como já fui dizendo, é fulcral não ter medo, ir à procura destas colaborações para desenvolver as nossas próprias ideias e estarmos abertos ao novo, sem definirmos o nosso percurso porque esse constrói-se ao longo do tempo.

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